
MATÉRIA PUBLICADA NO ESTADO DE MINAS DE HOJE:
Seja bem-vindo, você está na crista da “onda jovem” no Brasil. Este ano, a estimativa é de que a faixa etária de 15 a 29 anos chegue a 51,3 milhões de pessoas, 26,5% dos brasileiros, sendo que 3,4 milhões são mineiros. Esse número, de acordo com as projeções, será o ápice da população jovem, que em 2008 era de 50,2 milhões de habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2050, espera-se que eles representem apenas 19,1% dos brasileiros. Mas a imagem clássica da juventude, de garra, saúde e estudo, não é exatamente aquela que traduz o perfil dessa faixa etária no país. De futuro da nação, quem está entre 15 e 29 anos passou a carregar o título de risco social. É o que mostra o livro Juventude e Políticas Sociais no Brasil, lançado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), do governo federal.
A publicação avalia programas do governo federal voltados para a juventude e reúne dados alarmantes. Setenta e oito por cento das mortes entre homens nessa faixa etária são causadas por violência ou acidente de trânsito. Entre os dependentes de álcool, 19,2% têm entre 18 e 24 anos, índice superior ao de todas as outras faixas etárias. Dos casos registrados de Aids no país, 30% tem entre 15 e 29 anos. Um terço dessa população está na faixa de pobreza e tem renda familiar de até um salário mínimo. Na sala de aula, o cenário não é animador. Menos da metade dos jovens de 15 a 17 anos está cursando o ensino médio, sinalizando alto grau de repetência. Além disso, apenas 13% dos jovens de 18 a 24 anos frequentavam o ensino superior em 2007 e, mesmo fora da escola, são eles também a maioria dos desempregados no Brasil.
De acordo com o organizador do livro, Jorge Abrahão de Castro, diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, embora a educação seja tratada como o caminho para melhorar de vida, trajetória irregular e fracasso são a marca do currículo escolar de grande parte dos estudantes. “As oportunidades são limitadas, há problemas de desigualdade. Também falta atratividade e qualidade no ensino. A escola está atrasada”, ressalta. Talvez uma explicação esteja no fato de a temática da juventude ser assunto relativamente recente no país, que só em 2005 criou uma pasta direcionada para a questão. “Políticas gerais de educação e saúde não conseguem lidar com a pluralidade da situação juvenil. Isso vai exigir políticas específicas, como o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem)”, afirma Castro.
Se o governo demorou a entender a necessidade de uma atenção especial a essa faixa etária, há quem há tempos levante essa questão. “Como todos os outros, os jovens precisam ter direitos garantidos: escola de qualidade, acesso a emprego, cultura. Não é pensar no futuro, mas no presente. Percebo uma grande ausência da estrutura do estado nesses aspectos”, critica o estudante de fisioterapia Pablo Márcio Abranches, de 23 anos. Ele faz parte do grupo Entreface, que trabalha identidade juvenil, comunicação e cidadania junto a jovens de periferia e, desde os 17 anos, alimenta a discussão da participação dessa faixa etária na sociedade. “Usamos uma metodologia participativa, diferente da escola, que continua com estrutura muito conservadora.”
Além de fomentar essas temáticas, Pablo também usufrui de programas do governo federal voltados para jovens. O estudantes é bolsista do programa federal Universidade Para Todos (ProUni), que oferece bolsas de estudo em universidades particulares e foi analisado pelo livro do Ipea. “O programa cumpre seu papel, mas não dá muita assistência. Mesmo com o ProUni, tive que trabalhar e estudar. Durante um tempo, precisei trancar a faculdade”, afirma.
Para o coordenador especial da Juventude da Secretaria de Estado de Esportes e da Juventude, Roberto Tross, os espaços e programas para esse público no Brasil ainda estão engatinhando. “O Estatuto da Juventude ainda não foi aprovado pela Câmara dos Deputados. Não existe um sistema para essa parcela da população. Precisávamos de ter uma legislação construída. Pensar em programas com o jovem, e não para o jovem”. ressalta.
Segundo ele, no âmbito do estado, a tentativa é de trazer a juventude para dialogar. Para tanto, foram formados 104 conselhos em Minas. “Nós olhávamos para essa faixa etária como um problema. Hoje, olhamos como parte da solução. No programa sobre prevenção a doenças sexualmente transmissíveis, por exemplo, os monitores são jovens portadores do vírus HIV”, ressalta.
Confira o livro Juventude e Políticas Sociais no Brasil na íntegra pelo site www.ipea.gov.br






