quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

DESAFIO JOVEM


MATÉRIA PUBLICADA NO ESTADO DE MINAS DE HOJE:

Seja bem-vindo, você está na crista da “onda jovem” no Brasil. Este ano, a estimativa é de que a faixa etária de 15 a 29 anos chegue a 51,3 milhões de pessoas, 26,5% dos brasileiros, sendo que 3,4 milhões são mineiros. Esse número, de acordo com as projeções, será o ápice da população jovem, que em 2008 era de 50,2 milhões de habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2050, espera-se que eles representem apenas 19,1% dos brasileiros. Mas a imagem clássica da juventude, de garra, saúde e estudo, não é exatamente aquela que traduz o perfil dessa faixa etária no país. De futuro da nação, quem está entre 15 e 29 anos passou a carregar o título de risco social. É o que mostra o livro Juventude e Políticas Sociais no Brasil, lançado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), do governo federal.

A publicação avalia programas do governo federal voltados para a juventude e reúne dados alarmantes. Setenta e oito por cento das mortes entre homens nessa faixa etária são causadas por violência ou acidente de trânsito. Entre os dependentes de álcool, 19,2% têm entre 18 e 24 anos, índice superior ao de todas as outras faixas etárias. Dos casos registrados de Aids no país, 30% tem entre 15 e 29 anos. Um terço dessa população está na faixa de pobreza e tem renda familiar de até um salário mínimo. Na sala de aula, o cenário não é animador. Menos da metade dos jovens de 15 a 17 anos está cursando o ensino médio, sinalizando alto grau de repetência. Além disso, apenas 13% dos jovens de 18 a 24 anos frequentavam o ensino superior em 2007 e, mesmo fora da escola, são eles também a maioria dos desempregados no Brasil.

De acordo com o organizador do livro, Jorge Abrahão de Castro, diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, embora a educação seja tratada como o caminho para melhorar de vida, trajetória irregular e fracasso são a marca do currículo escolar de grande parte dos estudantes. “As oportunidades são limitadas, há problemas de desigualdade. Também falta atratividade e qualidade no ensino. A escola está atrasada”, ressalta. Talvez uma explicação esteja no fato de a temática da juventude ser assunto relativamente recente no país, que só em 2005 criou uma pasta direcionada para a questão. “Políticas gerais de educação e saúde não conseguem lidar com a pluralidade da situação juvenil. Isso vai exigir políticas específicas, como o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem)”, afirma Castro.

Se o governo demorou a entender a necessidade de uma atenção especial a essa faixa etária, há quem há tempos levante essa questão. “Como todos os outros, os jovens precisam ter direitos garantidos: escola de qualidade, acesso a emprego, cultura. Não é pensar no futuro, mas no presente. Percebo uma grande ausência da estrutura do estado nesses aspectos”, critica o estudante de fisioterapia Pablo Márcio Abranches, de 23 anos. Ele faz parte do grupo Entreface, que trabalha identidade juvenil, comunicação e cidadania junto a jovens de periferia e, desde os 17 anos, alimenta a discussão da participação dessa faixa etária na sociedade. “Usamos uma metodologia participativa, diferente da escola, que continua com estrutura muito conservadora.”

Além de fomentar essas temáticas, Pablo também usufrui de programas do governo federal voltados para jovens. O estudantes é bolsista do programa federal Universidade Para Todos (ProUni), que oferece bolsas de estudo em universidades particulares e foi analisado pelo livro do Ipea. “O programa cumpre seu papel, mas não dá muita assistência. Mesmo com o ProUni, tive que trabalhar e estudar. Durante um tempo, precisei trancar a faculdade”, afirma.

Para o coordenador especial da Juventude da Secretaria de Estado de Esportes e da Juventude, Roberto Tross, os espaços e programas para esse público no Brasil ainda estão engatinhando. “O Estatuto da Juventude ainda não foi aprovado pela Câmara dos Deputados. Não existe um sistema para essa parcela da população. Precisávamos de ter uma legislação construída. Pensar em programas com o jovem, e não para o jovem”. ressalta.

Segundo ele, no âmbito do estado, a tentativa é de trazer a juventude para dialogar. Para tanto, foram formados 104 conselhos em Minas. “Nós olhávamos para essa faixa etária como um problema. Hoje, olhamos como parte da solução. No programa sobre prevenção a doenças sexualmente transmissíveis, por exemplo, os monitores são jovens portadores do vírus HIV”, ressalta.


Confira o livro Juventude e Políticas Sociais no Brasil na íntegra pelo site www.ipea.gov.br

domingo, 1 de novembro de 2009

VIOLÊNCIA GRATUITA


Tive a oportunidade de assistir recentemente ao perturbador "Violência Gratuita" (Funny Games), filme de Michael Haneke, refilmado com novo elenco que estreou em 2008.
O longa é um thriller alucinante, do início ao fim, e é somente na superfície que ele se parece com os grotescos filmes de terror que há por aí.
O que mais chama atenção no filme, e que justifica citá-lo aqui nesse blog, é o fato de ele fazer vacilar as bases de nossas principais concepções sobre a violência.
Os dois jovens que resolvem sair aterrorizando famílias americanas em férias, por pura diversão, são dois lindos e louros rapazes, educadíssimos, limpíssimos, acima de qualquer suspeita. Bem diferente do tipo que já temos em mente para descrever facínoras: feios, sujos, pobres, mal-educados e, em geral, negros, infelizmente.
O diretor caçoa o tempo todo das teorias que tentam justificar o crime com base em infâncias de sofrimento, maus tratos, pobreza, enfim...
Ao fim e ao cabo, somos conduzidos a pensar que, às vezes, o mal dispensa qualificações. Ele simplesmente é.
Esse é um tema fascinante para toda a filosofia sobre o qual poderia ficar aqui falando por horas.
Mas para relacionar essa questão ao tema que nos toca - a violência nas escolas - quero destacar que nem sempre podemos buscar justificativas para a criminalidade que acontece à nossa volta. É certo que grande parte da violência que nos assola todos os dias é explicada pelas teorias que endossamos (desorganização social, socialização precária, internalização deficitária das normas, etc).
Entretanto, sempre restará uma pequena (felizmente!) parcela de crimes/agressões/violências não explicadas por essas vias.
Frente a esses poucos casos, fico pensativa e respeitosa, ciente de que muito pouco podemos fazer com nossa técnica, a não ser proteger o agressor de si mesmo, além de proteger suas vítimas.
Casos assim provocam-nos grande sentimento de impotência. Mas é preciso sempre lembrar que são minoria e que muito podemos fazer naqueles outros tantos.
Às exceções, resta-nos ao fim o silêncio, como no filme de Haneke.
Vale a dica do filme. Preparem-se.


quinta-feira, 1 de outubro de 2009

JUSTIÇA EM QUESTÃO

O programa Justiça em Questão dessa semana discutirá o tema "O universo do crack e seus desafios para o tratamento e para a justiça".
No programa serei uma das debatedoras, juntamente com o Juiz da Vara da Infância e Adolescência de Belo Horizonte, José Honório Rezende.
A estreia é hoje, dia 1 de outubro, na TV Comunitária, com reprise nos seguintes canais e horários:

TV Comunitária, canal 6 da Net e canal 13 da OiTV
  • Quinta-feira – 21h (estreia)
  • Segunda-feira – 18h30 (reprise)
  • Quarta-feira - 23h (reprise)

TV Justiça, canal 7 da Net e canal 6 da OiTV

  • Sábado – 16h30 (estreia)
  • Domingo - 15h (reprise)
  • Quarta-feira - 05h (reprise)

TV Horizonte, canal 19, UHF

  • Sábado – 12h30 (estreia)
  • Domingo – 5h (reprise)
  • Quarta-feira – 7h (reprise)
  • Sexta-feira – 4h (reprise)
Fica, portanto, a dica para quem quiser conhecer um pouco mais sobre o assunto que toca muito proximamente as escolas e influencia a questão da violência.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

A ONDA

Recentemente tive o prazer de assistir ao filme alemão "A ONDA"(Die Welle), do diretor Dennis Gansel. Estreou há pouco nos cinemas de todo o país e é uma excelente dica para todos.
O filme é um remake do curta-metragem "The Wave", do diretor Alex Grasshoff, de 1981, feito originalmente para a TV.
A estória baseia-se em um incidente real ocorrido na Cubberley High School, uma escola secundária norte-americana em 1967, em Palo Alto, Califórnia. Antes de virar filme, foi romanceado em livro homônimo de Morton Rhue.
Na ocasião, o professor (de estilo alternativo) Ron Jones, resolve realizar uma experiência com seus alunos recriando, no ambiente de sala de aula, um regime autocrático. Com a empreitada, o professor convidava seus alunos a repensarem a crença que tinham de que não mais havia espaço nos dias atuais para a instauração de regimes totalitários, como o nazismo.
O resultado é avassalador e visceral para todos com um desfecho trágico. Pode-se imaginar que as coisas não sairam como previsto...
O mais interessante aqui é destacar o quanto esse tema está relacionado com a violência em geral e, também, com a violência nas escolas.
Destacando os pilares do totalitarismo alemão (nazismo) "poder, disciplina e superioridade", o filme nos convida a pensar em como esses princípios sustentam-se na intolerância ao outro - ao diferente - e à sua consequente exclusão, seja por meio da força, do silenciamento ou do controle. E não são essas também as raízes da violência nas escolas na maioria dos casos?
O que é o bullying que não uma representação da intolerância? O que são as práticas discriminatórias praticadas na escola?
Fica então o convite para assistir e refletir sobre o tema. Segue o trailler:



segunda-feira, 7 de setembro de 2009

PROFESSORA FERIDA POR BOMBA CASEIRA



MATÉRIA DO JORNAL ESTADO DE MINAS DE 04/09/09:

Uma professora da rede pública, em Belo Horizonte, foi hospitalizada ontem ao ser atingida por bombas de fabricação caseira instaladas debaixo de sua mesa por um aluno. É o segundo caso de agressão, na capital, em poucos dias. Na semana passada, uma professora levou uma pedrada na cabeça. De 2007 até o primeiro trimestre deste ano, a Secretaria de Estado de Defesa Social registrou 129 casos de violência contra funcionários da rede estadual.

O ataque com a bomba resultou na internação, ontem, no Centro Integrado de Atendimento à Criança e ao Adolescente Infrator (CIA) de BH, do estudante de 15 anos autor da infração. Ele feriu a professora Dorotéia Maria da Cruz, da Escola Estadual Melo Viana, no Bairro Carlos Prates, na Região Noroeste da capital. O ato teria sido uma vingança contra a professora, que estava há três dias no local, substituindo uma profissional afastada por problemas de saúde.

Na terça-feira, primeiro dia de trabalho na escola, o aluno teria reagido com palavrões ao chamado de atenção de Dorotéia e jogado uma bolinha de papel na nuca dela. Encaminhado à diretoria, o estudante a ameaçou. Ontem, ele teria amarrado bombas de fabricação caseira embaixo da mesa da sala de aula. O material teria pequeno potencial explosivo, segundo a Polícia Militar, mas foi suficiente para causar ferimentos na perna da professora, que foi socorrida no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII.

Segundo a Polícia Militar, após o socorro Dorotéia foi encaminhada para o Instituto Médico Legal (IML), onde fez exame de corpo de delito. O adolescente fazia parte de uma turma especial para repetentes de ano. O diretor do colégio, José Laércio de Souza, disse que o menino não tinha um histórico de agressões. “Uma bagunça sem violência é normal. Nós ficamos surpresos com a atitude dele”, conta.

Já os vizinhos do colégio reclamam que sempre há tumulto na entrada. “Frequentemente, escutamos estouros vindos da escola”, diz uma moradora que preferiu não se identificar. A SEE informou que uma inspetora está acompanhando a rotina do colégio e entregará um relatório. Em 2007, foram registrados 66 casos de violência contra funcionários na rede estadual; em 2008, foram 59. Até março deste ano, quatro casos foram contabilizados, mas ainda há processos não finalizados.

A situação enfrentada pela escola é similar a de muitas outras instituições brasileiras, segundo Miriam Abramovay, socióloga e pesquisadora da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla). “A violência acontece muitas vezes porque a escola não escuta os alunos. As instituições deveriam fazer um diagnóstico e começar um processo de educação, onde todos os professores possam aprender a mediar conflitos“, afirma.

Segundo Abramovay, essa violência aparece nas relações sociais. “As microviolências, como agressões verbais e físicas, apelidos e homofobia desencadeiam esses ataques”, afirma. Se a perda de controle do aluno se dá em uma sala de aula, a instituição de ensino também tem uma parcela de responsabilidade.

A socióloga considera que os pais também contribuem para esse desequilíbrio, mas não são os culpados. “É muito fácil a escola pôr a culpa nos pais, mas eles também enfrentam situações difíceis. Grande parte tem escolaridade menor que os filhos e também não sabem o que fazer. A escola não dialoga com a família e a situação se complica“, dis.

Ela afirma que ainda não existem receitas prontas para a solução do problema. “A primeira coisa a se fazer é um diagnóstico da situação, como a Ritla fez em Brasília.” Abramovay diz que cada reação de alunos contra os colegas de classe, professores e funcionários deve ser encarada como uma “mensagem de que algo não está indo bem”. A solução inicial seria preparar melhor os professores para essas situações.

Enfim, variações sobre o mesmo tema...
A pergunta é: até quando?
Até quando as escolas se dividirão em dois grupos: os alunos enlouquecidos x os professores desesperados?
Perderemos definitivamente a capacidade de escuta e de intervenção frente a dor e a incompreensão?

MAIS UMA VEZ REPITO O MANTRA: "EDUCAR OS PROFESSORES"

domingo, 30 de agosto de 2009

BULLYING


Sempre que sou convidada a falar sobre violência nas escolas, seja na mídia, em aulas ou eventos sobre o tema, não é raro que o principal interesse dos ouvintes esteja nos acontecimentos graves ocorridos dentro dos muros das escolas ou em seu entorno, envolvendo mortes ou ferimentos graves, armas, roubos, enfim... acontecimentos que nos fazem pensar que as escolas se transformaram em verdadeiros campos de guerra. Na verdade, quando examinamos os dados (que não são tão fidedignos assim!) percebemos que esse tipo de manifestacão da violência não representa, de fato, a maior preocupação.
Existe um outro tipo de violência mais perniciosa, mais silenciosa, e que goza de uma certa invisibilidade no cotidiano escolar. Ela está presente nesse ambiente desde que escola é escola, se enraiza nas práticas e experiências vividas, produz e alimenta sofrimentos que, talvez, se mantenham por toda a vida daqueles que viveram essa realidade. Estou falando do Bullying, palavra inglesa, na falta de uma palavra melhor em português para descrever - de uma só vez - os atos de perseguição, humilhação e subjugação (física e/ou emocional) contínuos e voluntários contra um ou mais individuos dentro do ambiente escolar.
Quem não viveu ou não se lembra das "piadinhas" na escola de apelidar o gordinho, o que usa óculos, o negro, o pobre... Práticas culturalmente consideradas "coisas de criança" e, portanto, inofensivas, já que é também por crenças culturais que acreditamos que as crianças são seres angelicais e inocentes. Se quisermos ver a pujança dessas práticas, que já viraram hábitos nas escolas (e fora delas também!), é só observar um recreio típico: lá veremos encenados todos os conflitos que constituem a sociabilidade em construção, como deve ser mesmo.
O porém, quase sempre desprezado, é que essas coisas de criança, quando não supervisionadas e elaboradas, podem se transformar em violências mais graves no futuro, podendo culminar naqueles acontecimentos que a mídia adora noticiar.
A idéia é simples: frente ao sofrimento, a criança (e muitos "adultos" também) se utiliza dos recursos mais facilmente disponíveis para com ele lidar. Nesse embate, a mediação da palavra é trabalho sofisticado que só se desenvolve se for estimulado, trabalhado, reforçado. Na ausência dessa condicão, o caminho mais rápido para lidar com o sofrimento é usar o corpo, manifesto na forma de violência.
Mas esse é um assunto para muitos árido e indesejado porque convoca no educador - seja ele pais, professores, amigos - a necessidade de estar sempre atento ao que acontece, o que, sabemos, não é realmente fácil.
Quando falo, então, que o bullying deve ser o foco na questão da violência nas escolas, e isso envolve, sobretudo capacitação dos educadores para fazê-lo, o que escuto é desânimo, desinteresse... afinal isso não interessa à mídia!

terça-feira, 4 de agosto de 2009

INDISCIPLINA NAS ESCOLAS


"A cada ano, os professores brasileiros perdem, em média, 35 dias inteiros de aula tentando controlar alunos bagunceiros. A estimativa, divulgada no mês passado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), é um retrato do avanço da indisciplina nas escolas das redes públicas e privadas do país."


35 dias letivos de um total de 200 ao ano, ou seja, 17,5% de todo o tempo escolar é voltado para o controle dos alunos.

Se pensarmos, ainda, que o tempo médio de uma aula é de 50 minutos, tem-se que, desses, cerca de 8 minutos são gastos com a indisciplina dos alunos.

Novamente é preciso lembrar da necessidade de intervenção do poder público na capacitação dos professores que estão cada vez mais perdidos em sala de aula. E não se trata aqui de capacitação conteudista, mas, sim, sobre relacionamento humano, psicologia, sociologia, enfim...

Sem isso, continuaremos desfilando estatísticas infelizes que somente reforçam a sensação geral de impotência.