domingo, 30 de agosto de 2009

BULLYING


Sempre que sou convidada a falar sobre violência nas escolas, seja na mídia, em aulas ou eventos sobre o tema, não é raro que o principal interesse dos ouvintes esteja nos acontecimentos graves ocorridos dentro dos muros das escolas ou em seu entorno, envolvendo mortes ou ferimentos graves, armas, roubos, enfim... acontecimentos que nos fazem pensar que as escolas se transformaram em verdadeiros campos de guerra. Na verdade, quando examinamos os dados (que não são tão fidedignos assim!) percebemos que esse tipo de manifestacão da violência não representa, de fato, a maior preocupação.
Existe um outro tipo de violência mais perniciosa, mais silenciosa, e que goza de uma certa invisibilidade no cotidiano escolar. Ela está presente nesse ambiente desde que escola é escola, se enraiza nas práticas e experiências vividas, produz e alimenta sofrimentos que, talvez, se mantenham por toda a vida daqueles que viveram essa realidade. Estou falando do Bullying, palavra inglesa, na falta de uma palavra melhor em português para descrever - de uma só vez - os atos de perseguição, humilhação e subjugação (física e/ou emocional) contínuos e voluntários contra um ou mais individuos dentro do ambiente escolar.
Quem não viveu ou não se lembra das "piadinhas" na escola de apelidar o gordinho, o que usa óculos, o negro, o pobre... Práticas culturalmente consideradas "coisas de criança" e, portanto, inofensivas, já que é também por crenças culturais que acreditamos que as crianças são seres angelicais e inocentes. Se quisermos ver a pujança dessas práticas, que já viraram hábitos nas escolas (e fora delas também!), é só observar um recreio típico: lá veremos encenados todos os conflitos que constituem a sociabilidade em construção, como deve ser mesmo.
O porém, quase sempre desprezado, é que essas coisas de criança, quando não supervisionadas e elaboradas, podem se transformar em violências mais graves no futuro, podendo culminar naqueles acontecimentos que a mídia adora noticiar.
A idéia é simples: frente ao sofrimento, a criança (e muitos "adultos" também) se utiliza dos recursos mais facilmente disponíveis para com ele lidar. Nesse embate, a mediação da palavra é trabalho sofisticado que só se desenvolve se for estimulado, trabalhado, reforçado. Na ausência dessa condicão, o caminho mais rápido para lidar com o sofrimento é usar o corpo, manifesto na forma de violência.
Mas esse é um assunto para muitos árido e indesejado porque convoca no educador - seja ele pais, professores, amigos - a necessidade de estar sempre atento ao que acontece, o que, sabemos, não é realmente fácil.
Quando falo, então, que o bullying deve ser o foco na questão da violência nas escolas, e isso envolve, sobretudo capacitação dos educadores para fazê-lo, o que escuto é desânimo, desinteresse... afinal isso não interessa à mídia!

terça-feira, 4 de agosto de 2009

INDISCIPLINA NAS ESCOLAS


"A cada ano, os professores brasileiros perdem, em média, 35 dias inteiros de aula tentando controlar alunos bagunceiros. A estimativa, divulgada no mês passado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), é um retrato do avanço da indisciplina nas escolas das redes públicas e privadas do país."


35 dias letivos de um total de 200 ao ano, ou seja, 17,5% de todo o tempo escolar é voltado para o controle dos alunos.

Se pensarmos, ainda, que o tempo médio de uma aula é de 50 minutos, tem-se que, desses, cerca de 8 minutos são gastos com a indisciplina dos alunos.

Novamente é preciso lembrar da necessidade de intervenção do poder público na capacitação dos professores que estão cada vez mais perdidos em sala de aula. E não se trata aqui de capacitação conteudista, mas, sim, sobre relacionamento humano, psicologia, sociologia, enfim...

Sem isso, continuaremos desfilando estatísticas infelizes que somente reforçam a sensação geral de impotência.