
Tive a oportunidade de assistir recentemente ao perturbador "Violência Gratuita" (Funny Games), filme de Michael Haneke, refilmado com novo elenco que estreou em 2008.
O longa é um thriller alucinante, do início ao fim, e é somente na superfície que ele se parece com os grotescos filmes de terror que há por aí.
O que mais chama atenção no filme, e que justifica citá-lo aqui nesse blog, é o fato de ele fazer vacilar as bases de nossas principais concepções sobre a violência.
Os dois jovens que resolvem sair aterrorizando famílias americanas em férias, por pura diversão, são dois lindos e louros rapazes, educadíssimos, limpíssimos, acima de qualquer suspeita. Bem diferente do tipo que já temos em mente para descrever facínoras: feios, sujos, pobres, mal-educados e, em geral, negros, infelizmente.
O diretor caçoa o tempo todo das teorias que tentam justificar o crime com base em infâncias de sofrimento, maus tratos, pobreza, enfim...
Ao fim e ao cabo, somos conduzidos a pensar que, às vezes, o mal dispensa qualificações. Ele simplesmente é.
Esse é um tema fascinante para toda a filosofia sobre o qual poderia ficar aqui falando por horas.
Mas para relacionar essa questão ao tema que nos toca - a violência nas escolas - quero destacar que nem sempre podemos buscar justificativas para a criminalidade que acontece à nossa volta. É certo que grande parte da violência que nos assola todos os dias é explicada pelas teorias que endossamos (desorganização social, socialização precária, internalização deficitária das normas, etc).
Entretanto, sempre restará uma pequena (felizmente!) parcela de crimes/agressões/violências não explicadas por essas vias.
Frente a esses poucos casos, fico pensativa e respeitosa, ciente de que muito pouco podemos fazer com nossa técnica, a não ser proteger o agressor de si mesmo, além de proteger suas vítimas.
Casos assim provocam-nos grande sentimento de impotência. Mas é preciso sempre lembrar que são minoria e que muito podemos fazer naqueles outros tantos.
Às exceções, resta-nos ao fim o silêncio, como no filme de Haneke.
Vale a dica do filme. Preparem-se.

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