quarta-feira, 22 de julho de 2009

EXPECTATIVAS E ASPIRAÇÕES EDUCACIONAIS


"O estudo Violência e Convivência nas Escolas, realizado por pesquisadores da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla), aponta que mais de 60% dos docentes entrevistados têm certeza de que seus alunos vão abandonar os estudos para trabalhar. Além disso, só 15% dos professores acreditam que eles vão terminar o ensino médio e encontrar um bom emprego. "Na verdade, essa visão replica o que acontece na sociedade. Essa falta de crença no aluno é a mesma falta de crença e de compreensão que cerca o jovem de forma geral", afirma a autora do estudo, Miriam Abramovay."'(RITLA)


O campo de estudos da sociologia da educação enfatiza a relevância das expectativas e aspirações educacionais sobre a longevidade e o desempenho escolar dos estudantes. Há evidências de que os alunos que apresentam os piores desempenhos e/ou que abondonam a escola são provenientes de famílias com baixas expectativas sobre o estudo - seja porque não acreditam ou entendem a importância da educação para o futuro dos filhos, seja porque não creem na capacidade intelectual de suas crianças. Como consequencia, , essas crianças, em geral, também não desenvolvem grandes aspirações quanto à própria carreira acadêmica, e o resultado é o abandono prematuro dos estudos. Infelizmente, essa cadeia se estende também na escola, onde os professosres, em particular, têm poucas expectativas quanto ao futuro escolar dos alunos, especialmente os das escolas públicas localizadas em regiões de vulnerabilidade social.

A pergunta que sempre nos ronda é: o que resta a essas crianças se nem a família, nem a escola acreditam que elas podem ter um futuro promissor?

E o que isso tem a ver com a violência escolar?

Bom, não é difícil concluir, e há evidências disso, de que esses alunos, com o tempo, perdem o interesse pela escola e, por conseguinte, não mais investem em sua conservação e cuidado. O resto nós já sabemos ..... depredações, pichações, indisciplina, apatia, dentre tantas outras coisas.

O cerne desse questão está relacionado ao traço discriminatório da cultura brasileira que, apesar de não admitido, permeia as práticas sociais e faz perpetuar a idéia de que ao pobre só resta o crime.

E pior: o crime organizado apostou nessa lógica e tem dado aos jovens das periferias "oportunidades" para mostrarem que sabem fazer bem seus trabalhos...

segunda-feira, 6 de julho de 2009

ESCOLA DA PONTE - por uma nova organização escolar





O site Uol Educação publicou dia 30 de junho entrevista com o educador português José Pacheco (foto), idealizador do projeto Escola da Ponte reconhecido pelo caráter inovador de organização escolar aliado aos bons desempenhos apresentados pelos alunos. Pacheco é crítico mordaz do atual modelo educacional adotado pelas escolas em geral que preconiza a adequação do aluno aos pressupostos estabelecidos ao invés do contrário, ou seja, da adequação do modelo às necessidades dos alunos.

No debate sobre a violência nas escolas, a dimensão da organização escolar é muitas vezes deixada de lado enquanto se privilegia a abordagem dos fatores socioeconômicos envolvidos, especialmente nos casos de maior gravidade que provocam comoção popular. No entanto, essa discussão é absolutamente fundamental para a superação do problema.

Há evidências de que a organização escolar, expressa pelo projeto pedagógico e institucional, que delineia as formas de enturmação dos alunos, a carga horária, as disciplinas cursadas, as atividades extra-classe, os eixos transversais, dentre outros, é variável significativa para o estudo da violência nas escolas. Como exemplo disso, cite-se que é comum encontrarmos escolas situadas na mesma região, com características socioeconômicas semelhantes e clientela idem, mas que apresentam indices de violência bem diferentes. Com isso, é possível perceber que a explicação preferida pela mídia, que relaciona a pobreza à criminalidade, não se sustenta empiricamente. Há muito mais para se explorar nessa caixa preta. O papel da gestão - do diretor da escola - é decisivo em todo esse processo, mas esse já é tema para outro post.

Não se trata aqui de defender a implantação da Escola da Ponte no Brasil nos mesmos moldes do implementado em Portugal. Desnecessário dizer que nossa cultura e especificidade são singulares. A despeito disso, já passou da hora de se repensar a organização escolar no Brasil.

Recentemente o Mec divulgou o início de um projeto piloto para o novo Ensino Médio a ser desenvolvido em 100 escolas pelo país. Espero que essas inicitivas se estendam também para o Ensino Fundamental e que apontem para reformas estruturais vigorosas como a realidade atual exige.