domingo, 1 de novembro de 2009

VIOLÊNCIA GRATUITA


Tive a oportunidade de assistir recentemente ao perturbador "Violência Gratuita" (Funny Games), filme de Michael Haneke, refilmado com novo elenco que estreou em 2008.
O longa é um thriller alucinante, do início ao fim, e é somente na superfície que ele se parece com os grotescos filmes de terror que há por aí.
O que mais chama atenção no filme, e que justifica citá-lo aqui nesse blog, é o fato de ele fazer vacilar as bases de nossas principais concepções sobre a violência.
Os dois jovens que resolvem sair aterrorizando famílias americanas em férias, por pura diversão, são dois lindos e louros rapazes, educadíssimos, limpíssimos, acima de qualquer suspeita. Bem diferente do tipo que já temos em mente para descrever facínoras: feios, sujos, pobres, mal-educados e, em geral, negros, infelizmente.
O diretor caçoa o tempo todo das teorias que tentam justificar o crime com base em infâncias de sofrimento, maus tratos, pobreza, enfim...
Ao fim e ao cabo, somos conduzidos a pensar que, às vezes, o mal dispensa qualificações. Ele simplesmente é.
Esse é um tema fascinante para toda a filosofia sobre o qual poderia ficar aqui falando por horas.
Mas para relacionar essa questão ao tema que nos toca - a violência nas escolas - quero destacar que nem sempre podemos buscar justificativas para a criminalidade que acontece à nossa volta. É certo que grande parte da violência que nos assola todos os dias é explicada pelas teorias que endossamos (desorganização social, socialização precária, internalização deficitária das normas, etc).
Entretanto, sempre restará uma pequena (felizmente!) parcela de crimes/agressões/violências não explicadas por essas vias.
Frente a esses poucos casos, fico pensativa e respeitosa, ciente de que muito pouco podemos fazer com nossa técnica, a não ser proteger o agressor de si mesmo, além de proteger suas vítimas.
Casos assim provocam-nos grande sentimento de impotência. Mas é preciso sempre lembrar que são minoria e que muito podemos fazer naqueles outros tantos.
Às exceções, resta-nos ao fim o silêncio, como no filme de Haneke.
Vale a dica do filme. Preparem-se.


quinta-feira, 1 de outubro de 2009

JUSTIÇA EM QUESTÃO

O programa Justiça em Questão dessa semana discutirá o tema "O universo do crack e seus desafios para o tratamento e para a justiça".
No programa serei uma das debatedoras, juntamente com o Juiz da Vara da Infância e Adolescência de Belo Horizonte, José Honório Rezende.
A estreia é hoje, dia 1 de outubro, na TV Comunitária, com reprise nos seguintes canais e horários:

TV Comunitária, canal 6 da Net e canal 13 da OiTV
  • Quinta-feira – 21h (estreia)
  • Segunda-feira – 18h30 (reprise)
  • Quarta-feira - 23h (reprise)

TV Justiça, canal 7 da Net e canal 6 da OiTV

  • Sábado – 16h30 (estreia)
  • Domingo - 15h (reprise)
  • Quarta-feira - 05h (reprise)

TV Horizonte, canal 19, UHF

  • Sábado – 12h30 (estreia)
  • Domingo – 5h (reprise)
  • Quarta-feira – 7h (reprise)
  • Sexta-feira – 4h (reprise)
Fica, portanto, a dica para quem quiser conhecer um pouco mais sobre o assunto que toca muito proximamente as escolas e influencia a questão da violência.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

A ONDA

Recentemente tive o prazer de assistir ao filme alemão "A ONDA"(Die Welle), do diretor Dennis Gansel. Estreou há pouco nos cinemas de todo o país e é uma excelente dica para todos.
O filme é um remake do curta-metragem "The Wave", do diretor Alex Grasshoff, de 1981, feito originalmente para a TV.
A estória baseia-se em um incidente real ocorrido na Cubberley High School, uma escola secundária norte-americana em 1967, em Palo Alto, Califórnia. Antes de virar filme, foi romanceado em livro homônimo de Morton Rhue.
Na ocasião, o professor (de estilo alternativo) Ron Jones, resolve realizar uma experiência com seus alunos recriando, no ambiente de sala de aula, um regime autocrático. Com a empreitada, o professor convidava seus alunos a repensarem a crença que tinham de que não mais havia espaço nos dias atuais para a instauração de regimes totalitários, como o nazismo.
O resultado é avassalador e visceral para todos com um desfecho trágico. Pode-se imaginar que as coisas não sairam como previsto...
O mais interessante aqui é destacar o quanto esse tema está relacionado com a violência em geral e, também, com a violência nas escolas.
Destacando os pilares do totalitarismo alemão (nazismo) "poder, disciplina e superioridade", o filme nos convida a pensar em como esses princípios sustentam-se na intolerância ao outro - ao diferente - e à sua consequente exclusão, seja por meio da força, do silenciamento ou do controle. E não são essas também as raízes da violência nas escolas na maioria dos casos?
O que é o bullying que não uma representação da intolerância? O que são as práticas discriminatórias praticadas na escola?
Fica então o convite para assistir e refletir sobre o tema. Segue o trailler:



segunda-feira, 7 de setembro de 2009

PROFESSORA FERIDA POR BOMBA CASEIRA



MATÉRIA DO JORNAL ESTADO DE MINAS DE 04/09/09:

Uma professora da rede pública, em Belo Horizonte, foi hospitalizada ontem ao ser atingida por bombas de fabricação caseira instaladas debaixo de sua mesa por um aluno. É o segundo caso de agressão, na capital, em poucos dias. Na semana passada, uma professora levou uma pedrada na cabeça. De 2007 até o primeiro trimestre deste ano, a Secretaria de Estado de Defesa Social registrou 129 casos de violência contra funcionários da rede estadual.

O ataque com a bomba resultou na internação, ontem, no Centro Integrado de Atendimento à Criança e ao Adolescente Infrator (CIA) de BH, do estudante de 15 anos autor da infração. Ele feriu a professora Dorotéia Maria da Cruz, da Escola Estadual Melo Viana, no Bairro Carlos Prates, na Região Noroeste da capital. O ato teria sido uma vingança contra a professora, que estava há três dias no local, substituindo uma profissional afastada por problemas de saúde.

Na terça-feira, primeiro dia de trabalho na escola, o aluno teria reagido com palavrões ao chamado de atenção de Dorotéia e jogado uma bolinha de papel na nuca dela. Encaminhado à diretoria, o estudante a ameaçou. Ontem, ele teria amarrado bombas de fabricação caseira embaixo da mesa da sala de aula. O material teria pequeno potencial explosivo, segundo a Polícia Militar, mas foi suficiente para causar ferimentos na perna da professora, que foi socorrida no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII.

Segundo a Polícia Militar, após o socorro Dorotéia foi encaminhada para o Instituto Médico Legal (IML), onde fez exame de corpo de delito. O adolescente fazia parte de uma turma especial para repetentes de ano. O diretor do colégio, José Laércio de Souza, disse que o menino não tinha um histórico de agressões. “Uma bagunça sem violência é normal. Nós ficamos surpresos com a atitude dele”, conta.

Já os vizinhos do colégio reclamam que sempre há tumulto na entrada. “Frequentemente, escutamos estouros vindos da escola”, diz uma moradora que preferiu não se identificar. A SEE informou que uma inspetora está acompanhando a rotina do colégio e entregará um relatório. Em 2007, foram registrados 66 casos de violência contra funcionários na rede estadual; em 2008, foram 59. Até março deste ano, quatro casos foram contabilizados, mas ainda há processos não finalizados.

A situação enfrentada pela escola é similar a de muitas outras instituições brasileiras, segundo Miriam Abramovay, socióloga e pesquisadora da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla). “A violência acontece muitas vezes porque a escola não escuta os alunos. As instituições deveriam fazer um diagnóstico e começar um processo de educação, onde todos os professores possam aprender a mediar conflitos“, afirma.

Segundo Abramovay, essa violência aparece nas relações sociais. “As microviolências, como agressões verbais e físicas, apelidos e homofobia desencadeiam esses ataques”, afirma. Se a perda de controle do aluno se dá em uma sala de aula, a instituição de ensino também tem uma parcela de responsabilidade.

A socióloga considera que os pais também contribuem para esse desequilíbrio, mas não são os culpados. “É muito fácil a escola pôr a culpa nos pais, mas eles também enfrentam situações difíceis. Grande parte tem escolaridade menor que os filhos e também não sabem o que fazer. A escola não dialoga com a família e a situação se complica“, dis.

Ela afirma que ainda não existem receitas prontas para a solução do problema. “A primeira coisa a se fazer é um diagnóstico da situação, como a Ritla fez em Brasília.” Abramovay diz que cada reação de alunos contra os colegas de classe, professores e funcionários deve ser encarada como uma “mensagem de que algo não está indo bem”. A solução inicial seria preparar melhor os professores para essas situações.

Enfim, variações sobre o mesmo tema...
A pergunta é: até quando?
Até quando as escolas se dividirão em dois grupos: os alunos enlouquecidos x os professores desesperados?
Perderemos definitivamente a capacidade de escuta e de intervenção frente a dor e a incompreensão?

MAIS UMA VEZ REPITO O MANTRA: "EDUCAR OS PROFESSORES"

domingo, 30 de agosto de 2009

BULLYING


Sempre que sou convidada a falar sobre violência nas escolas, seja na mídia, em aulas ou eventos sobre o tema, não é raro que o principal interesse dos ouvintes esteja nos acontecimentos graves ocorridos dentro dos muros das escolas ou em seu entorno, envolvendo mortes ou ferimentos graves, armas, roubos, enfim... acontecimentos que nos fazem pensar que as escolas se transformaram em verdadeiros campos de guerra. Na verdade, quando examinamos os dados (que não são tão fidedignos assim!) percebemos que esse tipo de manifestacão da violência não representa, de fato, a maior preocupação.
Existe um outro tipo de violência mais perniciosa, mais silenciosa, e que goza de uma certa invisibilidade no cotidiano escolar. Ela está presente nesse ambiente desde que escola é escola, se enraiza nas práticas e experiências vividas, produz e alimenta sofrimentos que, talvez, se mantenham por toda a vida daqueles que viveram essa realidade. Estou falando do Bullying, palavra inglesa, na falta de uma palavra melhor em português para descrever - de uma só vez - os atos de perseguição, humilhação e subjugação (física e/ou emocional) contínuos e voluntários contra um ou mais individuos dentro do ambiente escolar.
Quem não viveu ou não se lembra das "piadinhas" na escola de apelidar o gordinho, o que usa óculos, o negro, o pobre... Práticas culturalmente consideradas "coisas de criança" e, portanto, inofensivas, já que é também por crenças culturais que acreditamos que as crianças são seres angelicais e inocentes. Se quisermos ver a pujança dessas práticas, que já viraram hábitos nas escolas (e fora delas também!), é só observar um recreio típico: lá veremos encenados todos os conflitos que constituem a sociabilidade em construção, como deve ser mesmo.
O porém, quase sempre desprezado, é que essas coisas de criança, quando não supervisionadas e elaboradas, podem se transformar em violências mais graves no futuro, podendo culminar naqueles acontecimentos que a mídia adora noticiar.
A idéia é simples: frente ao sofrimento, a criança (e muitos "adultos" também) se utiliza dos recursos mais facilmente disponíveis para com ele lidar. Nesse embate, a mediação da palavra é trabalho sofisticado que só se desenvolve se for estimulado, trabalhado, reforçado. Na ausência dessa condicão, o caminho mais rápido para lidar com o sofrimento é usar o corpo, manifesto na forma de violência.
Mas esse é um assunto para muitos árido e indesejado porque convoca no educador - seja ele pais, professores, amigos - a necessidade de estar sempre atento ao que acontece, o que, sabemos, não é realmente fácil.
Quando falo, então, que o bullying deve ser o foco na questão da violência nas escolas, e isso envolve, sobretudo capacitação dos educadores para fazê-lo, o que escuto é desânimo, desinteresse... afinal isso não interessa à mídia!

terça-feira, 4 de agosto de 2009

INDISCIPLINA NAS ESCOLAS


"A cada ano, os professores brasileiros perdem, em média, 35 dias inteiros de aula tentando controlar alunos bagunceiros. A estimativa, divulgada no mês passado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), é um retrato do avanço da indisciplina nas escolas das redes públicas e privadas do país."


35 dias letivos de um total de 200 ao ano, ou seja, 17,5% de todo o tempo escolar é voltado para o controle dos alunos.

Se pensarmos, ainda, que o tempo médio de uma aula é de 50 minutos, tem-se que, desses, cerca de 8 minutos são gastos com a indisciplina dos alunos.

Novamente é preciso lembrar da necessidade de intervenção do poder público na capacitação dos professores que estão cada vez mais perdidos em sala de aula. E não se trata aqui de capacitação conteudista, mas, sim, sobre relacionamento humano, psicologia, sociologia, enfim...

Sem isso, continuaremos desfilando estatísticas infelizes que somente reforçam a sensação geral de impotência.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

EXPECTATIVAS E ASPIRAÇÕES EDUCACIONAIS


"O estudo Violência e Convivência nas Escolas, realizado por pesquisadores da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla), aponta que mais de 60% dos docentes entrevistados têm certeza de que seus alunos vão abandonar os estudos para trabalhar. Além disso, só 15% dos professores acreditam que eles vão terminar o ensino médio e encontrar um bom emprego. "Na verdade, essa visão replica o que acontece na sociedade. Essa falta de crença no aluno é a mesma falta de crença e de compreensão que cerca o jovem de forma geral", afirma a autora do estudo, Miriam Abramovay."'(RITLA)


O campo de estudos da sociologia da educação enfatiza a relevância das expectativas e aspirações educacionais sobre a longevidade e o desempenho escolar dos estudantes. Há evidências de que os alunos que apresentam os piores desempenhos e/ou que abondonam a escola são provenientes de famílias com baixas expectativas sobre o estudo - seja porque não acreditam ou entendem a importância da educação para o futuro dos filhos, seja porque não creem na capacidade intelectual de suas crianças. Como consequencia, , essas crianças, em geral, também não desenvolvem grandes aspirações quanto à própria carreira acadêmica, e o resultado é o abandono prematuro dos estudos. Infelizmente, essa cadeia se estende também na escola, onde os professosres, em particular, têm poucas expectativas quanto ao futuro escolar dos alunos, especialmente os das escolas públicas localizadas em regiões de vulnerabilidade social.

A pergunta que sempre nos ronda é: o que resta a essas crianças se nem a família, nem a escola acreditam que elas podem ter um futuro promissor?

E o que isso tem a ver com a violência escolar?

Bom, não é difícil concluir, e há evidências disso, de que esses alunos, com o tempo, perdem o interesse pela escola e, por conseguinte, não mais investem em sua conservação e cuidado. O resto nós já sabemos ..... depredações, pichações, indisciplina, apatia, dentre tantas outras coisas.

O cerne desse questão está relacionado ao traço discriminatório da cultura brasileira que, apesar de não admitido, permeia as práticas sociais e faz perpetuar a idéia de que ao pobre só resta o crime.

E pior: o crime organizado apostou nessa lógica e tem dado aos jovens das periferias "oportunidades" para mostrarem que sabem fazer bem seus trabalhos...

segunda-feira, 6 de julho de 2009

ESCOLA DA PONTE - por uma nova organização escolar





O site Uol Educação publicou dia 30 de junho entrevista com o educador português José Pacheco (foto), idealizador do projeto Escola da Ponte reconhecido pelo caráter inovador de organização escolar aliado aos bons desempenhos apresentados pelos alunos. Pacheco é crítico mordaz do atual modelo educacional adotado pelas escolas em geral que preconiza a adequação do aluno aos pressupostos estabelecidos ao invés do contrário, ou seja, da adequação do modelo às necessidades dos alunos.

No debate sobre a violência nas escolas, a dimensão da organização escolar é muitas vezes deixada de lado enquanto se privilegia a abordagem dos fatores socioeconômicos envolvidos, especialmente nos casos de maior gravidade que provocam comoção popular. No entanto, essa discussão é absolutamente fundamental para a superação do problema.

Há evidências de que a organização escolar, expressa pelo projeto pedagógico e institucional, que delineia as formas de enturmação dos alunos, a carga horária, as disciplinas cursadas, as atividades extra-classe, os eixos transversais, dentre outros, é variável significativa para o estudo da violência nas escolas. Como exemplo disso, cite-se que é comum encontrarmos escolas situadas na mesma região, com características socioeconômicas semelhantes e clientela idem, mas que apresentam indices de violência bem diferentes. Com isso, é possível perceber que a explicação preferida pela mídia, que relaciona a pobreza à criminalidade, não se sustenta empiricamente. Há muito mais para se explorar nessa caixa preta. O papel da gestão - do diretor da escola - é decisivo em todo esse processo, mas esse já é tema para outro post.

Não se trata aqui de defender a implantação da Escola da Ponte no Brasil nos mesmos moldes do implementado em Portugal. Desnecessário dizer que nossa cultura e especificidade são singulares. A despeito disso, já passou da hora de se repensar a organização escolar no Brasil.

Recentemente o Mec divulgou o início de um projeto piloto para o novo Ensino Médio a ser desenvolvido em 100 escolas pelo país. Espero que essas inicitivas se estendam também para o Ensino Fundamental e que apontem para reformas estruturais vigorosas como a realidade atual exige.

terça-feira, 30 de junho de 2009

DROGAS E ARMAS NAS ESCOLAS DE BH


O Jornal da Alterosa 1a edição de 20/03/2009 apresentou uma matéria (com minha modesta participação) sobre o tema da violência nas escolas, especificamente sobre a questão das drogas e armas nas escolas. Mesmo com limitações, a matéria procurou evidenciar como a violência presente no entorno adentrou as escolas e transformou seu cotidiano. A matéria apresentou, ainda, dados da pesquisa divulgada em 2004 pelo CRISP, que entrevistou alunos de 50 escolas públicas de BH, selecionadas aleatoriamente, sobre suas percepções de como (e se) a violência afeta o seu desempenho escolar. Os dados revelam que a grande maioria dos alunos já sofreu ou já presenciou cenas de violência na escola e que por esse motivo sentem-se inseguros no ambiente escolar. Além disso, acreditam que a insegurança prejudica a aprendizagem. As afirmações dos entrevistados apresentam evidências empíricas nas pesquisas da área que mostram correlação entre o desempenho escolar e os índices de violência nas escolas. Como exemplo, destaca-se a pesquisa realizada pela Unesco em 16 países da América Latina e divulgada em 2008. Essa pesquisa, de grande relavância para o campo, evidenciou que a variável clima escolar mostrou-se especialmente significativa para explicar o desempenho dos alunos.
Todas essas informações nos permitem concluir que, no que diz respeito à violência nas escolas, é cada dia mais tênue a separação entre o campo da segurança pública e o campo da educação. Não há mais como tratar o problema de modo isolado, como infelizmente o poder público ainda tem feito na maioria dos casos.
Mais uma vez é preciso observar o caráter plural do assunto, sob pena de permanecermos eternamente míopes.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

INTOLERÂNCIA DIZ PRESENTE


Que a violência nas escolas é fenômeno polissêmico complexo já é algo sabido por aqueles que se interessam minimamente pelo tema.

Aliás, esse caráter plural inspirou o nome desse Blog. Em algumas contribuições que fiz na mídia sobre o tema ou nos eventos sobre ele em que participei, fica nítida a ansiedade de todos em enquadrar fenômenos distintos sobre o problemático nome de violência escolar, algo já bastante discutido, por exemplo, por Eric Debarbieux, estudioso de expressão sobre o assunto. O problema em questão é que o nome violência escolar pode abranger desde os atos de vandalismo, roubos, assassinatos ocorridos dentro ou no entorno da escola (esses muito explorados pela mídia), passando pelos atos de indisciplina e desrespeito que atormentam professores, até os atos mais sutis, ainda sem muita visibilidade, como o bullying, mas que nos mostram indícios de serem justamente os mais danosos. Pode encampar, ainda, aquela violência que se refere à própria organização da escola e suas práticas. Enfim, um bocado de coisas distintas sobre um mesmo nome. Esse é um dos desafios enfrentados por nós pesquisadores e pelos formuladores de políticas públicas e programas de prevenção. Afinal, o que atacar primeiro e como?


Na esteira dessa complexidade, um tema que se destaca é a questão da discriminação nas escolas.


Estudo recente da FIPE revela o triste quadro das escolas públicas, onde a maioria esmagadora de seus atores - alunos, professores, funcionários e pais - admite discriminar algum (ns) das categorias estudadas.


O estudo é bastante abrangente, mas não trouxe surpresas para quem lida de perto com escolas. Infelizmente práticas discriminatórias são comuns, apesar de muitas vezes nem percebidas pelos próprios agentes. Manifestam-se sobretudo nas práticas e discursos que permeiam as escolas. E, claro, é sem dúvida alguma uma forma de violência em si mesma e, ainda pior, atua na reprodução da mesma na sociedade. E não pensem vocês que isso não ocorra também nas escolas particulares! A pesquisa não abrangeu essas escolas, mas não há dúvidas de que isso ocorre também nelas.


A educação para a paz, não vingará enquanto os trabalhadores da educação não enfrentarem a questão da diversidade de forma eficaz.


Abaixo, segue reprodução da matéria publicada no Estado de Minas de 18 de junho.



Intolerância diz presente
Pesquisa encomendada pelo Ministério da Educação com estudantes, seus familiares e funcionários de escolas públicas revela que 99% admitem preconceito contra minorias
Ingrid Furtado

Beto Magalhães/EM/D.A Press
Muitos dos estudantes ouvidos revelaram já ter presenciado agressões físicas ou verbais motivadas pela raça ou opção sexual das vítimas
O preconceito nas escolas públicas brasileiras revela sua face mais cruel contra negros, portadores de deficiência e homossexuais. Pesquisa inédita da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) financiada pelo Ministério da Educação mostra que, como se não bastassem a humilhação e as agressões físicas, o sentimento ainda ajuda a perpetuar o distanciamento social entre os grupos analisados. O levantamento, divulgado ontem, aponta que 99% dos entrevistados, entre alunos, pais de estudantes e funcionários de unidades municipais, estaduais e federais de ensino do país afirmam alimentar algum tipo de discriminação. Dos 18.600 ouvidos, 96,5% admitiram ter preconceito contra pessoas com deficiência; 94,2% assumiram discriminação contra etnias e raças; e 87,3% recriminam pessoas devido à sua orientação sexual. Um dos objetivos da pesquisa, feita por amostragem, é orientar a elaboração de políticas educacionais que minimizem essas diferenças. O estudo indica que, por meio das crenças, valores e atitudes, todos os públicos entrevistados mostram que o preconceito é uma constante nas salas de aula. Os pesquisadores sortearam 500 escolas públicas do país, incluindo as localizadas em regiões rurais. A seleção foi feita de acordo com a proporcionalidade das matrículas por região demográfica e por modalidade de ensino: fundamental, médio e a Educação de Jovens e Adultos (EJA), baseado no Censo Escolar de 2007. Além de 15 mil alunos com idades a partir de 14 anos, foi entrevistada uma parcela dos pais desses estudantes, diretores das escolas, professores e funcionários das instituições de ensino. Os resultados indicam que, além de nutrir o preconceito, os entrevistados evitam o contato com as vítimas. Ou seja, estudantes com algum tipo de deficiência, de raças discriminadas, pobres ou homossexuais são excluídos em brincadeiras, no recreio ou até em trabalhos na sala de aula e, por isso, a socialização entre todos é dificultada. Outra constatação preocupou os pesquisadores: as unidades de ensino que apresentaram índice de discriminação mais elevada mostraram também aproveitamento escolar mais baixo. “É a primeira vez que se faz uma pesquisa abordando preconceito e discriminação de forma tão abrangente no Brasil. Conseguimos incluir opiniões de todos os atores escolares. O resultado mostra uma situação extremamente preocupante e revela que, no contexto das escolas públicas, todos estão impregnados com algum tipo de preconceito”, salienta o professor e coordenador de pesquisa da Fipe, José Afonso Mazzon. • MUITAS FORMAS DO MESMO MAL A formulação dos questionários foi feita com base em grupos de preconceito: racial, socioeconômico, de gênero, de orientação sexual, relativo a diferenças de idade, relativo a áreas de moradia e o relacionado a pessoas com necessidades especiais (física e mental) . “Abertamente, as pessoas falam que não têm preconceito, mas, sob a proteção do anonimato, a discriminação fica escancarada. E foi isso que percebemos na pesquisa. O ambiente escolar é responsável pela formação da pessoa. Mas em casa que o preconceito nasce. Como a discriminação é de certa forma velada no Brasil, é difícil o poder público interferir. E o estudo mostra que, para erradicar o preconceito, é preciso políticas federais incisivas e constantes. Não basta distribuir cartilhas ou fazer ações tópicas. É necessário muito mais educação inclusiva e informação”, diz José Afonso Mazzon. Uma face assustadora da pesquisa revela que 19% dos entrevistados responderam já terem visto algum aluno negro sendo humilhado ou agredido fisicamente simplesmente em função da cor da pele. Já 18,2% responderam o mesmo em relação aos estudantes pobres e 17,4%, aos homossexuais. “A situação é grave. É dramático o quanto uma pessoa pobre, negra, homossexual e moradora de favela precisa se esforçar para superar tanto preconceito e ser alguém na vida. O indivíduo que se acha melhor do que ela, se vê no direito de segregá-la e humilhá-la o máximo possível”, afirma o professor. Ele explica que, em geral, o homem é 10% mais preconceituoso que a mulher. “Mas, se avaliarmos apenas a discriminação relacionada à opção sexual, o homem é 23% mais intolerante do que o sexo oposto”. A estudante Taís Lívia de Jesus Neves, de 15 anos, é estudante da Escola Municipal Santos Dumont, no Bairro Santa Efigênia, Região Leste de BH, e já presenciou situações de discriminação. “É muito comum ver negros e gays sofrendo humilhação. Vejo isso sempre e é impossível a pessoa não sofrer. Conheço alunos que ficaram um bom tempo sem ir a escola por serem vítimas de discriminação”, afirma.
RETRATO DA VERGONHA
Natureza do preconceito % dos que assumem preconceito
Geral 99,3%
Quanto a deficiência 96,5%
Racial 94,2
De gênero 93,5%
Entre gerações 91%
Socioeconômica 87,5%
De orientação sexual 87,3%
Relativo ao local de moradia 75,9%

Fonte: Fipe/Pesquisa sobre preconceito e discriminação no ambiente escolar

terça-feira, 23 de junho de 2009

VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS

Embora tenha infinitos assuntos de interesse sobre os quais poderia prosear a vida inteira, reservei para esse blog um esforço de reflexão sobre o tema ao qual venho me dedicando nos últimos 12 anos: a VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS.
O tema vem frequentando bastante a mídia nos últimos tempos. Tanto se fala, mas tão pouco se explica; menos ainda se propõe. Que dirá do que se concretiza!
O tema já virou mote até para o Casseta e Planeta.
Seus problemas acabaram! Professor Protecteitor Antiporradeitor Tabajara!



Pode até ser engraçado, e certamente muitos professores cansados verão nele a sarcástica solução para seus problemas.
Mas, falando sério, se acreditarmos que só nos resta apelar para as Organizações Tabajara decretamos, então, a falência geral de todo projeto educativo!
Felizmente essa não é a minha crença!
Há, sim, caminhos possíveis!